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PERIGO NAS RUAS

Uso da linha com cerol ainda coloca vidas em risco

A Lei Estadual nº 1.391 proíbe a comercialização e o uso de cerol no estado de Rondônia

Publicado em 15/01/2020 às 06:35
Atualizado em

(Foto: SECOM/RO)

A viseira do capacete rasgou, mas a linha passou no lado direito, diminuindo o impacto do ferimento. Mesmo assim, o mototaxista Aldenísio Rodrigues de Brito, 43 anos, cinco filhos, d11 anos de experiência, foi parar no Pronto Socorro depois de ser atingido pela linha com cerol no ano passado.

“Eu ia pela (avenida) Mamoré, no sentido da (avenida) Imigrantes, três horas da tarde, quando a linha me pegou quase de cheio”, ele lembrou. 

Desde então, Aldenísio passou a usar antena de proteção na moto. Ele mora no bairro Escola de Polícia (zona leste da Capital). 

O Decreto nº 24.643, de 30 de dezembro/2019 passou a regulamentar a Lei Estadual nº 1.391, de 15 de setembro de 2004, que proíbe a comercialização e o uso de cerol no estado de Rondônia. 

Nos meses de férias escolares, a prática é mais frequente de novembro a fevereiro, e de junho a agosto. 

NO PESCOÇO

Marcelo Rodrigues, proprietário de um lava-jato na rua Antônio Fraga Moreira, no bairro Tancredo Neves, é vizinho de um homem conhecido por Gel, que quase foi degolado pela linha de cerol, em 2018. Ele foi levado ao Pronto Socorro do Hospital João Paulo II e ali chegou a ser entubado; perdeu muito sangue no pescoço.

“Isso tem que parar”, apelou o comerciante Marcelo referindo-se a quem empina papagaio sem o devido cuidado e com a linha perigosa. “Olhe o tanto de gente que anda de moto nessa cidade”, alertou. 

O Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia reforça a cada ano os cuidados que pais, adolescentes e crianças devem ter para não correr riscos ou provocar acidentes. 

Segundo o vice-comandante, coronel Gilvander Gregório, a orientação é no sentido de evitar o pior.“É perigoso e pode provocar lesão corporal média, grave e gravíssima, levando até ao óbito”. 

NO DEDÃO, FERIMENTO FOI ATÉ O OSSO

Apesar do rigor, não há como a cidade deixar de conviver com essa brincadeira antiga, cujo desvio para o uso da mistura de cola de sapateiro com vidro moído, ou pó de quartzo, põe em risco a vida de crianças e também de adultos e idosos.

Hoje (15), o pedreiro e catador de plásticos Manoel Ferreira Rocha, 47, estava desolado, em frente ao cômodo alugado onde armazena plásticos para reciclagem, na Rua Jardim, Bairro Costa e Silva. 

Na quarta-feira passada (8), quando transitava de bicicleta com uma carga rumo ao depósito, ele foi atingido fortemente pela linha com cerol. “Ia acertando o peito, mas o saco cheio de plástico me protegeu, só que ela pegou no pneu dianteitro e enroscou no meu dedão, entrando até no osso”, diz mostrando o ferimento. Ele foi socorrido por uma vizinha. 

Aos condutores de motos, o CBM-RO recomenda equipar o veículo com antenas antilinhas, evitando dessa forma que sejam atingidos por eventuais linhas com cerol. 

O vento soprava levemente às 9h30 da manhã de sexta-feira (10), próximo ao residencial Orgulho do Madeira, a dez quilômetros do centro de Porto Velho. Os irmãos João Pedro, 13, e Flávia, 11, empinam suas pipas na rua Cristalina no meio de diversos cachorros soltos. 

João Pedro conta que já usou cerol, mas que cuida para não extrapolar o limite do terreno em frente à casa. 

SEM ENERGIA E SEM INTERNET

Em 16 de junho do ano passado, um domingo, um soldado da Polícia Militar teve o queixo cortado, quando trafegava de moto na Avenida Jorge Teixeira. Uma viatura do Samu o conduziu ao João Paulo II.

Já este ano, na esquina das ruas Benjamin Constant e João Pedro Rocha, no Bairro Embratel, a linha chilena de uma pipa cortou um pedaço da fiação, interrompendo por aproximadamente 4 horas o fornecimento de energia elétrica e o sinal de internet, conforme relatou a moradora Antônia Lima Pereira. 

Segundo Antônia, ela e os vizinhos fizeram abaixo-assinado e o entregaram à Câmara Municipal, pedindo fiscalização para o cumprimento da lei. 

COMÉRCIO

Na maior distribuidora de pipas, linhas e carretilhas da Zona Leste, o proprietário, Carlos Irineu, conta que sempre chegam encomendas de comerciantes do interior, inclusive pacotes do produto para supermercados.

Carlos, conhecido por Ziza, comercializa diversos tipos de linhas, com predominância das brancas e coloridas. Há carretilhas grandes suficientes para armazenar um quilômetro de linha. “Nós estamos bem cuidados aqui, e até para os festivais a gente passa a linha adequada”, comentou. 

Segundo o comerciante, a forte linha chilena “vendia mais antigamente”, porém, devido aos acidentes, sofreu uma espécie de condenação. Essa linha é feita com óxido de alumínio e outros materiais abrasivos, por meio de um processo mecanizado a quente. 

De maio a junho, com anúncios nas redes sociais, competições em diversos festivais de pipas tomam conta do Estado, garantindo clientela certa para a loja. Ele lembra do sucesso dessas competições no Parque da Expojipa, em Ji-Paraná; na pista de kart em Vilhena: e em Candeias do Jamari, onde a própria prefeitura promove um lanche com cachorro quente para crianças e jovens participantes. “É festa o dia todo”, comentou Carlos. 

Na Zona Leste de Porto Velho há três fabricantes de carretilhas e armações de pipas, todos fornecedores dele. O trabalho artesanal proporciona cerca de 20 empregos diretos. 

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